O fascínio que estas plantas exercem sobre os homens remonta a muitos séculos atrás. Para além de serem utilizadas como plantas medicinais, na época medieval o sumo das suas folhas era utilizado para curar uma enorme quantidade de maleitas, havia também um valor místico que lhes era atribuído. Sendo plantas que crescem em zonas montanhosas e rochosas, muitas vezes cresciam também nas fissuras dos muros e telhados de pedra, esse hábito deu origem a uma crença de que estas plantas, nos telhados, protegiam as casas contra efeitos maléficos, entre eles, a queda de relâmpagos. Foi tanto assim que o grande imperador francês Charlemagne (séc. VIII) ordenou por decreto que todos os edifícios que lhe pertencessem tivessem Sempre-vivos (nome também utilizado no feminino ‘Sempre-vivas’) plantados nos telhados. A espécie mais comum, Sempervivum tectorum, quer dizer mesmo isso: ‘Sempre-vivos dos telhados’.
As plantas do género Sempervivum pertencem à família das Crassulaceae. São plantas de zonas montanhosas, que crescem normalmente entre os 800 – 2500m de altitude. Podem ser encontrados no Sul da Europa, países mediterrânicos, Ásia ocidental e norte de África. Existem entre 40 a 50 espécies de Sempervivum na natureza e cerca de 8000 híbridos produzidos pelo homem. Nas últimas décadas do século passado os Sempervivum perderam um pouco a sua popularidade e o aparecimento de uma tão grande variedade de novos cultivares, com cores e formas diferentes, ajudou a evitar que estas plantas caíssem no esquecimento.
São plantas alpinas e como tal, muito resistentes às intempéries. Tanto a temperaturas baixas e neve, como a períodos curtos de seca. Como o próprio nome indica, é uma planta que mesmo negligenciada ou com poucas condições se mantém sempre viva. Nas nossas casas, há, no entanto, que ter alguns cuidados. Devem ser cultivadas no exterior e apanhar o máximo de sol directo possível. As plantas que são mantidas à sombra ficam todas verdes perdendo as cores e grande parte da sua beleza. Habituadas a crescer nas fissuras das rochas e em solos pobres, costumamos brincar dizendo que os Sempervivum não precisam de cuidados nem de substracto mas a verdade é que no nosso país, que é mais seco do que as montanhas de onde são originários, precisamos de dar uma ajudinha.
As plantas são suculentas e formam uma roseta de folhas lisas e pontiagudas. A disposição das folhas pode variar, desde mais fechados, mais geométricos, em espiral. A forma e a cor das folhas também são variáveis. Podem ser de uma só cor ou ter mais do que uma cor. Geralmente as pontas são mais escuras. Existem alguns em que as folhas do centro da roseta são mais escuras ou têm uma cor diferente e outros que alteram a cor conforme as estações do ano. Raramente se encontra um Sempervivum sozinho, geralmente estão rodeados de filhotes. Emitem estolhos, caules rastejantes, que terminam numa nova planta bébé, exactamente igual à sua progenitora. Existem espécies que emitem um ou dois estolhos, outros emitem vários. O nome comum desta planta nos Estados Unidos é ‘Hen and Chicks’, que traduzindo será ‘Galinha e pintos’ devido a esta particularidade das plantas adultas estarem sempre rodeadas de filhotes como pintos a seguir as mães-galinha.
Os Sempervivum são plantas monocárpicas, ou seja, só dão flores uma vez e de seguida morrem. Quando se tornam maduras, com dois ou três anos de idade, as rosetas deixam de produzir filhotes e preparam-se para florir. As cores ficam mais intensas e as folhas principiam for se alongar. De seguida a parte central cresce e na ponta aparecem as flores. Essas hastes florais podem atingir os 30cm, dependendo de espécie para espécie. As flores têm a forma de uma estrela e podem ter entre 8 a 16 pétalas. Normalmente são cor-de-rosa ou púrpura mas também existem espécies com flores amarelo-claro. A polinização é feita por insectos e as sementes produzidas são espalhadas pelo vento.
Para cultivar estas suculentas utilizo vasos pequenos de barro com substracto próprio para cactos e suculentas. Pode-se fazer uma mistura caseira de substracto universal com uma mistura de areia de sílica para assegurar uma melhor drenagem. Temos que ter cuidado com o excesso de água que pode apodrecer os Sempervivum. A colocação dos vasos ao sol directo e em lugares com bom arejamento ajuda a evaporação rápida da água. Coloco também areão fino (3mm) ou areia grossa por cima do substracto para que só o pé da planta esteja em contacto directo com o substracto. Mas como referi anteriormente, são plantas resistentes. Já as vi tapadas de neve durante dias, à torreira do sol e debaixo de fortes chuvadas sem que isso lhes fosse fatal.
Para além dos vasos de barro, o interessante em plantar estas plantas é que podemos inventar. Como não precisam de muito substracto podem ser plantados nos mais variados locais, convencionais ou não. Eu gosto até de usar vasos de bonsai, taças e tabuleiros diferentes para fazer as composições. Pode-se plantar uma espécie por vaso ou combinar mais do que um tipo. O contraste entre cores, formas e texturas é sempre divertido na jardinagem.